08/04/2018

Alcoólicos Anônimos ajudaram mais de 160 famílias de Artur Nogueira

Segundo organização, 40% dos nogueirenses têm problemas com o alcoolismo

Da redação

“Cada um tem o seu fundo de poço”, afirma Luiz, um dos participantes do grupo Artur Nogueira do Alcoólicos Anônimos (AA). Cada alcoólatra, segundo ele, lida com a doença de uma maneira diferente. Uns a detém logo na primeira reunião. Outros terão problemas com ela mesmo após anos frequentando os encontros. “Então você tem que renovar o propósito de evitar o primeiro gole a cada 24 horas”, explica.

Sob o respaldo da 12ª tradição da organização, que preza pelo anonimato de seus membros, Luiz e sua esposa, Marlene, preferem não ter suas imagens e sobrenomes divulgados. O casal fundou há dois anos a unidade que leva o nome da cidade e fica localizada no Parque dos Trabalhadores, na antiga base da Guarda Civil Municipal (GCM). Outro grupo, o Esperança em Viver, também atua no município.

De acordo com eles, quatro em cada 10 moradores de Artur Nogueira têm problemas com o alcoolismo. O casal comenta que mais de 160 famílias já foram beneficiadas com o trabalho da unidade no bairro. E apesar de centenas de nogueirenses com a doença terem assistido aos encontros promovidos no antigo prédio da GCM, poucos são os que mantêm a frequência diária.

“O alcoolismo é a doença da negação, onde o alcoólatra nega, a família esconde e a sociedade discrimina”, conta Luiz. “Mais tem valor para as pessoas um saco de lixo do que um bêbado caído na calçada. O caminhão passa e leva o saco de lixo, mas o bêbado ninguém levanta”, acrescenta. Por causa disso, o número de pessoas que frequentam as reuniões do AA é muito rotativo.

“Tem pessoas que ficam dois ou três meses, vão embora e nunca mais bebem. Tem quem fica dois ou três dias e volta a beber. Tem quem fique dois anos, saia e volte a beber”, explica Luiz. “A doença é física, mental e emocional tanto quanto espiritual. Ela não tem cura, mas pode ser detida, por meio das nossas reuniões cotidianas”, esclarece.

A doença não pega leve. Quando ocorrem recaídas, a situação do alcoólatra volta ao ponto em que havia parado. “É como uma vela. Você a acende e apaga depois de algum tempo. Quando for reacender a vela, ela não estará inteira de novo, mas pela metade. Sempre mais perto do fim. Assim é a doença, sempre progressiva”, exemplifica o membro do AA.

“E se você volta a beber, talvez você nem consiga mais voltar para o AA, porque a sede é grande, você é compulsivo e você se afunda. E como é a doença da negação, você volta a negar o problema”, alerta.

Batalha diária

Apesar de participarem do AA há quase 27 anos, Luiz e Marlene lutam todos os dias contra o alcoolismo. Ela, por exemplo, é natural de Recife (PE) e fugiu de lá em 1985. Com duas crianças pequenas e completamente desmoralizada em sua cidade natal por causa das bebidas, ela se mudou para a capital paulista. Conseguiu uma casa e um trabalho, mas era consumida dia e noite pelo desejo de beber.

Marlene, que era mãe solteira, desejava muito se casar. Na cabeça dela, um casamento faria com que ela largasse a bebida. Casou-se com Luiz, que era viúvo, tinha um filho e, também, era alcoólatra. “Aí virou aquele inferno”, relembra.

Marlene conta que, quando começou a beber, dava conta de 10 latas de cerveja sem nem ficar tonta. Quando, porém, o alcoolismo se manifestou de maneira mais clara, uma latinha já a derrubava. “Éramos dois bêbados desmoralizados. Fizemos encontro de casais com Cristo, fomos em igreja de crente, várias religiões, tudo o que você possa imaginar, mas não teve jeito”, conta.

Até que, em 8 de novembro de 1991, o casal participou de sua primeira reunião do AA, numa sala do Itaim Paulista, em São Paulo. E nunca mais pararam de ir. É verdade que alguns tropeços ocorreram no caminho, mas o casal nunca deixou de caminhar, tendo muito mais vitórias para comemorar do que frustrações para lamentar.

Eles ficaram 20 anos na capital, frequentando e trabalhando voluntariamente nos órgãos de serviços do AA. Em 2011, então, mudaram-se para Artur Nogueira. Frequentaram o grupo Esperança em Viver, no Centro, por alguns anos. Eles, contudo, olhavam com carinho para os moradores do Parque dos Trabalhadores. “Aqui nesse bairro há muita gente carente, que não tem sequer uma bicicleta para ir lá no outro grupo. Daí resolvi que abriria o grupo aqui”, conta Marlene.

Há dois anos, então, conseguiram o espaço que serviu de base da GCM no bairro e abriram o grupo denominado Artur Nogueira. Desde então, centenas de pessoas foram atendidas pelo AA no Parque dos Trabalhadores. Para chamar essas pessoas, o casal realiza um metódico trabalho de divulgação em unidades de saúde e comércios da cidade.

“A gente faz trabalhos de divulgação em PSFs, clínicas, hospitais. Só hoje eu instalei caixinhas em três lugares diferentes. Caixinhas com panfletos. E uma vez por semana, eu mesma vou nesses locais e reabasteço”, conta Marlene. “Eu faço isso tudo por amor. Não recebo nada. Corro atrás de tudo com amor, e sou muito feliz com isso. Eu até me emociono de estar aqui nesta entrevista, pelo privilégio de falar desse trabalho”, conta.

AA

O Alcoólicos Anônimo é uma irmandade de homens e mulheres que compartilham suas experiências, forças e esperanças, a fim de resolverem seu problema comum e ajudar outros a se recuperarem do alcoolismo. O único requisito para ser membro é o desejo de parar de beber. Para ingressar na comunidade, não há taxas nem mensalidades – o grupo é autossuficiente devido a suas próprias contribuições.

Marlene e Luiz ressaltam que a irmandade não é vinculada a nenhuma religião, seita ou órgão do governo. “Aqui no AA você traz o Deus da maneira que você concebe. Pode ser Buda, Orixá, pode ser ateu, agnóstico, adventista, católico, o que for. Dessa porta para dentro nós nos nivelamos”, explicam.

Segundo Luiz, o nivelamento também ocorre no aspecto profissional. “Um advogado aqui não é melhor que um lixeiro, nem um médico melhor que um faxineiro”, enfatiza.

Atualmente, o AA está presente em mais de 180 países, tendo ajudado mais de dois milhões de pessoas alcançarem a sobriedade. “Mas seus membros reconhecem que seu programa nem sempre é eficaz com todos os alcoólicos e que alguns necessitam de aconselhamento e tratamento profissional”, assevera um dos folhetos do grupo.

Estima-se que hoje existam cerca de seis mil grupos do AA no Brasil.

Tenho problemas com alcoolismo?

O AA possui um pequeno teste para identificar pessoas que possam ter problemas com bebidas alcoólicas. Analise as questões abaixo:

  • Você já tentou parar de beber por uma semana ou mais, mas só conseguiu por alguns dias?
  • Gostaria que as pessoas não se intrometessem na vida e parassem de falar o que você deve fazer com relação à bebida?
  • Já mudou de tipo de bebida na esperança de que isso o impedisse de ficar bêbado?
  • Tomou algum trago nos últimos 12 meses?
  • Você inveja as pessoas que podem beber sem criar problemas?
  • Você teve problemas relacionados com sua maneira de beber nos últimos 12 meses?
  • Sua maneira de beber já causou problemas em seu lar?
  • Tentou conseguir doses extras de bebidas em festas onde as quantidades eram limitadas?
  • Você diz a si mesmo que pode parar de beber quando quiser, mesmo sabendo que fica bêbado sem querer?
  • Faltou a serviço ou à escola por causa da bebida?
  • Já teve “apagamentos” durante uma bebedeira?
  • Já pensou que sua vida poderia ser melhor se você não bebesse?

Se você respondeu afirmativamente a pelo menos quatro dessas questões, é muito provável que você tenha problemas com álcool. Nesse caso, vale entrar em contato com o AA para procurar ajuda. Em Artur Nogueira, há dois grupos do AA:

Grupo Artur Nogueira: Rua Xisto Pietrobon, 181, Parque dos Trabalhadores (Antiga base da GCM) – Reuniões às segundas, quartas e sábados às 19h30.

Grupo Esperança em Viver: Avenida Dr. Fernando Arens, 841, sala 4, Centro – Reuniões de segunda a sexta, às 20 horas, e domingos, às 9 horas.

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