04/04/2018

Capela histórica deve ser tombada em Artur Nogueira

Segundo secretário de Cultura, material apresentado em audiência por especialistas do Unasp é suficiente para fazer o pedido de tombamento da capela do Bairrinho

Da redação

A Capela de Santa Bárbara, como é conhecida a antiga capela do Bairrinho, em Artur Nogueira, deve ser tombada e, assim, tornar-se patrimônio histórico do município e do estado. De acordo com o secretário municipal de Cultura, Edesio Lopes, o material apresentado sobre o edifício nesta terça-feira (3) por especialistas do Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp) em audiência pública é o suficiente para que se peça o tombamento do prédio.

Segundo Lopes, o edifício ainda não foi tombado porque não possui nenhum vínculo documental com a Prefeitura de Artur Nogueira nem com a Diocese de Limeira (SP). “Esse trabalho do Unasp já é o suficiente para eu ir a São Paulo e pedir o tombamento da capela no estado que ela está. E enquanto o processo ocorre, eu já posso ir trabalhando com a restauração. Quando os dois estiverem prontos, a gente tem a segurança total de que ela vai permanecer no formato que está”, afirma.

Lopes ressalta, contudo, que levar o trabalho feito pelo Unasp até a Secretaria Cultural do Estado de São Paulo é apenas o primeiro passo para o tombamento. “É de extrema importância um levantamento tão técnico quanto este apresentado hoje. E isso fomentou, juntamente com os moradores da região, a criação de documentos que protejam aquele bem patrimonial e que a gente consiga restaurar ele. Então vamos nos empenhar para isso”, assegura.

Umas das organizadoras da pesquisa feita sobre a capela é a professora de História Janaína Xavier. Ela afirma que o estudo apresenta informações que vão ao encontro de muitas das tradições orais a respeito do edifício. “Como questão da Estrada dos Goiases, a questão da viagem de Auguste de Saint-Hilaire, que eram questões que a comunidade apontava e que a gente pôde trazer informações mais concretas”, explica.

Segundo ela, porém, o artefato mais precioso nesse contexto não é a capelinha. “No meu ponto de vista, a imagem sacra de Santa Bárbara é a relíquia mais importante e que precisa de um cuidado mais significativo por parte da comunidade”, destaca. “Também é preciso uma atenção maior para a preservação da edificação religiosa, que está em vias de ruína”, alerta a docente.

Janaína também declara ter ficado muito satisfeita com os resultados apresentados e a presença da comunidade na audiência. “Lamentamos que, por parte do Poder Público, tivemos apenas a representação do secretário – importante presença, é óbvio –, mas nós esperávamos ter a representação do Poder Legislativo, que aqui não compareceu, e também de representantes da igreja, que foram convidados e que infelizmente não puderam comparecer”, sublinhou.

Estudo

O inventário histórico e arquitetônico da Capela de Santa Bárbara foi coordenado pelas professoras Janaína Xavier e Bárbara Guazzelli, do Unasp. A pesquisa foi realizada com a participação dos alunos Ariane Cunha, Daniel Teodoro, Gabriela Bottan e Gustavo Ramos. A ideia do estudo, segundo Janaína, surgiu após a publicação de uma matéria do Portal Nogueirense sobre a capelinha e contou com apoio do engenheiro Helton Filippini.

Os pesquisadores partiram dos relatos orais a respeito do edifício e iniciaram um levantamento bibliográfico detalhado, que incluiu 47 obras, sendo algumas com mais de três séculos. Foi feita uma pesquisa documental, algumas entrevistas, levantamentos fotográficos e métricos, além de uma análise técnica da edificação.

O inventário concluiu que a imagem sacra de Santa Bárbara, preservada pelo sitiante João Santiago Martins, o Tataio, é muito mais antiga que a própria capela. Trata-se, muito provavelmente, de uma imagem popular paulistinha em barro cozido, oca e policromada. Na inscrição “HR 1663”, localizada na base da estátua, as letras se referem às iniciais do nome da pessoa que confeccionou a santa, e os números, ao ano da fabricação.

Quanto à tradição de que a capela teria sido fundada por um missionário espanhol chamado Heitor Rodrigues no século 17, nada foi confirmado. Não há qualquer apontamento sobre a existência do missionário nos registros brasileiros e paulistas. Além disso, o registro da primeira capela levantada na região de Campinas data de 1730, apenas.

A questão de a antiga Estrada dos Goiases ter passado pelo Bairrinho também foi desmentida. Segundo o inventário, o mais provável é que a estrada passasse a cerca de 9km do Bairrinho, que, até o século 18, nem existia. Relatos da época apontam que, nessa região, havia apenas uma densa área de mata, de difícil transposição.

A visita do Naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire, em 1816, também parece não ter ocorrido na região que hoje constitui Artur Nogueira. Segundo o inventário, o pernoite dele teria ocorrido no engenho de Pirapitanga, que fica a cerca de 14km do Bairrinho, que, pelo que se entende, ainda era uma grande floresta na época.

Os primeiros registros de habitantes no Bairrinho, de acordo com a pesquisa, datam da segunda metade do século 19. De acordo com o Almanaque da Província de São Paulo, de 1873, não há registro de serviços religiosas na região. O primeiro registro da capelinha é uma foto de 1902, em que há uma grande celebração – e que pode, inclusive, se tratar da inauguração do prédio, segundo Janaína.

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Em outra foto tirada no local, é possível ver um padre. Segundo o inventário, trata-se de José Michaud, que dirigiu a Paróquia de Mogi Mirim de 1901 a 1903. Outro registro da capelinha é o de um batismo, ocorrido em 1917.

O estudo arquitetônico apontou que, originalmente, a capela talvez fosse feita de taipa, tendo sido reconstruída posteriormente com tijolos. A estrutura atual não possui cimento, que só se popularizou no Brasil em meados dos anos 1940. Portanto, a reconstrução deve ter ocorrido antes desse período, mas recebeu reformas posteriores, como no telhado – cujas telhas foram fabricadas por uma empresa fundada apenas em 1966.

Agora, cerca de 50 anos após o fim das atividades no local, a capela encontra-se em avançado estado de deterioração. “O madeiramento do telhado se encontra em péssimo estado de conservação, com muitos pontos de ruína iminente por infestação de pragas e exposição ao tempo”, afirma o inventário.

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Recomendações

Ao final da apresentação, algumas recomendações acerca do prédio e da imagem da santa foram feitas. “Devido à edificação estar localizada dentro de uma plantação, é recomendável que seja demarcado um perímetro à sua volta que resguarde a capelinha do cotidiano atual, como por exemplo a trepidação que o maquinário provoca no solo durante a colheita”, ressalta o estudo.

Os problemas observados na estrutura da edificação devem ser corrigidas de acordo com técnicas específicas a cada problema, segundo a pesquisa. “As partes faltantes da alvenaria, por exemplo, devem ser completadas apenas com tijolos de barro cozido e argamassa de barro. Caso seja aplicado cimento na edificação, é provável que com o passar dos anos a capelinha entre em uma situação ainda mais grave do que aquela em que se encontra atualmente”, alerta o inventário.

A imagem sacra de Santa Bárbara também deve receber cuidados especiais. “Devido ao seu valor histórico e artístico, recomenda-se fortemente que a imagem seja preservada em uma instituição que possa defendê-la de eventuais danos e furto, permitindo o acesso do público interessado, pois se trata de um patrimônio cultural de interesse da sociedade”, enfatiza a pesquisa.

“A Capelinha de Santa Bárbara é um significativo patrimônio cultural da região. O inventário defende a preservação e a restauração urgente da edificação, pois a mesma encontra-se em avançado grau de deterioração e risco estrutural o que resultaria na destruição de um monumento da história de Artur Nogueira e o apagamento da memória local”, finaliza o levantamento.

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