18/02/2018

Professora de hip hop lida com preconceito para dar aulas em Artur Nogueira

Ana Carolina Alves conta como ignorância de algumas pessoas dificultaram implantação de turma da dança na cidade

Da redação

Quem foi ao Ginásio Municipal Maurício Sia na sexta-feira da semana passada, dia 9 de fevereiro, presenciou não apenas os dois belos jogos das finais do Campeonato de Futsal de Verão, mas apresentações de danças muito bem elaboradas. Entre as performances, a que mais impressionou foi a do grupo de hip hop Iniciante da Academia Corpo In Forma.

Cerca de 18 pessoas, entre homens e mulheres, entraram na quadra com roupas pretas e laranjadas. Ao som de músicas como Jump Around (House of Pain), Swalla (Jason Derulo) e Formation (Beyoncé), o grupo executou uma coreografia intensa e bem sincronizada, com movimentos que arrancaram aplausos e elogios das centenas de pessoas que assistiram à apresentação.

No entanto, reunir esse grupo de dançarinos e realizar a bem-sucedida performance não foi tarefa fácil. E o motivo é simples: preconceito.

Ana Carolina Figueiredo Alves é publicitária e trabalha com direção de arte em Campinas (SP). Contudo, cresceu em Artur Nogueira e conheceu aos seis anos de idade o mundo da dança. “Eu fazia parte de um antigo grupo que havia em Artur Nogueira de ginástica olímpica da Escola Montessori, há muito tempo atrás”, conta

Ela tem larga experiência no meio e já passou por modalidades como jazz, contemporâneo e ginástica acrobática também. No hip hop, começou há cerca de cinco anos e integra um grupo em Campinas (SP) chamado YO! Hip Hop. Por sugestão de amigos e familiares, decidiu abrir uma turma dessa modalidade em Artur Nogueira, já que a cidade não tinha nada desse tipo.

“Eu imaginei que ia ser muito fácil, já que ninguém oferecia a modalidade na cidade. Sem concorrência, parecia que a tarefa seria simples. Mas não foi isso”, afirma a publicitária e professora.

Dança de “nóia”

Em março de 2017, Ana Carolina realizou uma aula aberta na academia. Várias crianças foram, mas seus pais não acompanharam a apresentação. Deixaram os filhos no local e foram fazer outras coisas. Quando a professora os procurou para falar sobre as aulas, teve que ouvir coisas como: “Não, minha filha não vai fazer isso, é dança de ‘mano’” e “Isso é dança de ‘nóia’”. “Eu, sinceramente, não achei que fosse enfrentar esse tipo de preconceito”, desabafa.

2017 foi um ano difícil para Ana Carolina. Ela teve apenas cinco alunas pagantes na turma de Hip Hop, que também contava com a filha dela e uma amiga. O lucro que ela tinha com a turma era suficiente apenas para pagar o combustível do carro no deslocamento entre Campinas (SP) e Artur Nogueira. “Eu decidi levar o ano assim, para chegar no fim do ano, no festival da academia, e quebrar o preconceito”, explica.

Dito e fito. A turma dela se apresentou no festival de dança da Corpo In Forma em novembro de 2017 e conseguiu quebrar a barreira do preconceito. “Foi muito legal. As pessoas vieram elogiar, e ouvi elogios dos mesmos pais que haviam feito críticas antes”, recorda.

No dia 6 de janeiro deste ano, Ana Carolina promoveu uma nova aula aberta de hip hop na academia. Cerca de 21 pessoas compareceram ao evento e ficaram impressionados com o que viram. A professor deixou claro logo no início da apresentação que havia enfrentado dificuldades com a modalidade por causa do preconceito, mas que ela não tentaria convencer os alunos que aquela não era uma dança de “mano”.

“Hoje a gente vai dançar a dança de mano. Vocês vão sair daqui com a dança de mano. E vocês vão me falar se gostam ou não”, desafiou seu público. Ela, então, deu uma aula de hip hop old school, com movimentos básicos da modalidade. “E o pessoal gostou bastante”, comemora. As aulas tiveram início pouco tempo depois, e boa parte das alunas dela integrou o grupo que se apresentou no ginásio municipal no dia 9 de fevereiro, ao lado de membro do YO! Hip Hop.

“O ginásio estava lotado. Foi uma vibe muito boa” comenta.

Válvula de escape

A professor afirma que, para praticar hip hop, é preciso apenas força de vontade. E os benefícios vão muito além do desenvolvimento físico, como aumento de resistência, tonificação, perda de peso, fortalecimento do coração e da coordenação motora. Segundo Ana Carolina, a dança faz bem para a mente para crescimento pessoal dos indivíduos.

“Estar ali nas aulas acaba sendo uma válvula de escape para muita gente. E também acaba sendo algo que ocupa a mente”, afirma. “Então quando você incentiva uma criança ou adolescente a se dedicar ao hip hop ou à dança em geral, você, querendo ou não, faz com que cresçam sonhos neles e os impede de seguir por caminhos ruins”.

Ana trabalha para que o hip hop cresça e de popularize na cidade, enriquecendo a oferta de modalidades de dança na cidade. “Temos uma overdose de balé em Artur Nogueira, cujas aulas são muito boas, e o pessoas que dão essas aulas são muito boas também. Mas é isso. E se a pessoa não gostar de balé? Ela vai dançar o quê?”, reflete.

Segundo Ana Carolina, a intenção é que, com a solidificação das aulas de hip hop na academia, outras modalidade venham para a cidade, como jazz, contemporâneo, sapateado, entre outros.

Para acompanhar o trabalho do grupo de hip hop da Corpo In forma basta acessar o perfil dele no Instagram. As aula acontecem todos os sábados, a partir das 10 horas.

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