08/09/2017

Psicóloga de Artur Nogueira explica como lidar com pensamentos suicidas

SETEMBRO AMARELO: Estima-se que um suicídio ocorra no mundo a cada 40 segundos; Saiba como colaborar para que esse número não aumente

Da redação

Estima-se que um suicídio ocorra no mundo a cada 40 segundos. No Brasil, a cada 45 minutos. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), aproximadamente 804 mil pessoas cometem suicídio todos os anos no planeta, sendo que, em 2012, 11.821 dessas mortes foram registradas apenas em solo brasileiro. Apesar dos números assustadores – e que não param de crescer –, o assunto ainda é um tabu para muitas pessoas.

Como consequência, o tema não é corretamente abordado nas casas e nas escolas. Uma série de mitos se estruturam ao redor do suicídio, impedindo que mais mortes sejam evitadas. A depressão, principal causa de mortes dessa natureza, continua a ser mal-encarada por grande parte da população, que ignora o tratamento ou não o trata com a devida seriedade.

E é por isso que, desde o momento em que você abriu essa matéria, mais uma pessoa cometeu suicídio em algum lugar do mundo.

Neste mês, pessoas de todo o país realizam o Setembro Amarelo, uma campanha que visa conscientizar a população sobre o suicídio, suas causas e maneiras de evitá-lo. Para esclarecer um pouco mais esse tema, o Portal Nogueirense conversou com a psicóloga Valéria de Souza Cruz, que atua em Artur Nogueira e passou algumas orientações para nossos leitores. Confira:

O que é a depressão: uma doença ou apenas uma tristeza muito profunda? A depressão é uma doença, com sintomas bem diferentes da tristeza. A tristeza é um sentimento momentâneo, que faz parte da vida e é considerado até saudável, porque pode ser a elaboração de algum acontecimento que afeta o transcorrer da vida. Mas, quando a tristeza se prolonga por um determinado tempo, acima de dois a três meses, e vai se aprofundando paulatinamente, somando-se a outros sintomas, como apatia, desinteresse, falta de perspectiva, de sentido e desesperança, aí temos a depressão como doença. Ela necessita ser tratada, até porque esses sintomas também são seguidos por outros, físicos, que variam de sintomas gástricos, dores no corpo, enfim, eles variam de acordo com os órgãos de choque de cada pessoa.

Como identificar alguém com depressão? A identificação da depressão se dá pelos sintomas citados. Ela se encontra classificada no grupo das doenças afetivas. Os sintomas podem se manifestar de uma forma branda, e é comum o paciente procurar um clínico-geral, acreditando estar com falta de vitaminas ou alguma doença mais grave. No entanto, a depressão tem uma evolução cíclica, pode começar leve, aumentar para um quadro moderado e chegar a um estado grave.

Embora não exista nenhum exame para diagnosticar a depressão, há algumas características que podem levar ao diagnóstico apropriado. É necessário atentar-se aos sinais, pois os sintomas podem variar. Muitas vezes, a depressão infantil não é diagnosticada porque passa por algo comum às variações emocionais e psicológicas da fase de crescimento. Os primeiros sintomas da depressão são tristeza persistente com falta de esperança e alterações no humor.

Há outros sintomas, como ansiedade, apatia, culpa, descontentamento geral, perda de interesse, perda de interesse ou prazer nas atividades, solidão, tristeza, tédio ou sofrimento emocional. Também é comum apresentar agitação, automutilação, choro excessivo, inquietação, irritabilidade ou isolamento social. No sono, os deprimidos costumam ter despertar precoce, excesso de sonolência, insônia ou sono agitado, além da falta de concentração, lentidão durante atividades e pensamentos suicidas.

Outros sinais de alerta são fadiga ou fome excessiva, repetição insistente de pensamentos, ganho de peso ou perda de peso e abuso de substâncias como álcool ou drogas psicoativas.

O que pode levar alguém a cometer suicídio? Apenas a depressão? A Organização Mundial de Saúde (OMS) diz que o suicídio já é a segunda causa de morte entre pessoas de 15 a 29 anos. Ele seria um dos sintomas extremos de uma depressão gravíssima, ou de uma outra doença psíquica grave. A depressão é, sim, um quadro de risco para o suicídio. Mas, de acordo com os últimos dados do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP) da USP, o aumento do suicídio na população jovem hoje é um fenômeno mundial e uma questão de saúde pública. Os principais fatores de risco para o suicídio são o consumo de drogas e o bullying.

O que fazer quando alguém demonstra algum interesse em cometer suicídio? É importante entendermos que, a probabilidade de uma pessoa cometer suicídio varia num contínuo, que contempla a ideação suicida – pensamentos acerca da possibilidade de cometer o suicídio -, a tentativa de suicídio – gestos autodestrutivos não fatais –, até ao suicídio consumado, que resulta em morte. A intenção do suicídio em um indivíduo é parar a sua imensurável dor psicológica e não pôr termo à sua vida. Querem simplesmente fugir das duras realidades da vida e tensões com as quais não conseguem lidar, para as quais não veem uma solução possível, nem perspectiva mudança na sua atual situação ou em um futuro próximo.

Para ajudar alguém com ideação suicida ou comportamento suicida é necessário diagnosticar o estado mental do indivíduo. É depressão grave? Reação a drogas? Surto psicótico? Violência espiritual? Ou é algo situacional, impulsivo, daquele momento de desespero, havendo em seguida o arrependimento? Se, ao passar por uma avaliação, a pessoa disser que tem ideias suicidas, ela não deve ficar sozinha em momento algum, até que o pensamento suicida lhe saia da cabeça. Além disso, o acompanhamento psiquiátrico deve começar de imediato associado a psicoterapia.

O psicoterapeuta poderá fazer o acolhimento inicial, trabalhar o momento de crise inicialmente para criar condições de, num segundo momento, realizar o processo de compreensão e tratamento destes pensamentos disfuncionais. A maior ajuda que podemos oferecer é a ajuda profissional.

É possível curar a depressão? O que fazer quando ela é diagnosticada? É possível, sim, curar a depressão leve ou moderada. Já em casos de depressão grave, há tratamento com resultados muito positivos. Basta o primeiro passo: assumir que possui um problema e buscar ajuda para começar os principais tratamentos. Os principais tratamentos são por meio de psicologia, psiquiatria e mudança de hábitos de vida acompanhado por profissionais da área. O tipo de tratamento varia de acordo com o tipo de depressão que o paciente possui, já que as causas do problema podem ser variadas.

Quais os principais erros que as pessoas cometem com quem tem depressão ou demonstre vontade em tirar a própria vida? Os principais erros que as pessoas cometem com quem tem depressão ou demonstra vontade em tirar a própria vida são considerações errôneas e a crença nos mitos que envolvem o assunto. Principalmente aquela história de que “quem fala, não faz”. Ouça. Sempre ouça. Não é natural que um ser humano diga que vai se matar ou que a vida não tem sentido ou que ele não aguenta mais a vida. Isso não é natural. Principalmente com os jovens. Quando é com adolescente, a gente tem mania de falar “ah, a pessoa está fazendo isso para chamar a atenção”. Não ache que a pessoa que fala não vai fazer. Tem duas perguntas que você deve fazer a uma pessoa que pensa em se suicidar: “onde dói e como eu posso ajudar?” Por isso que é importante você ouvir e tentar ajudá-la naquela dor específica. Essa história de que quem se mata é fraco, ou então é louco, não tem nada a ver. Não podemos julgar as ações e pensamentos de quem tem comportamento suicida. Devemos ser empáticos! Outra recomendação muito importante é que jamais deve-se desafiar a pessoa que está pensando em tirar sua vida, pois isto só potencializaria o desejo de fazê-lo.

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