17/06/2018

Circulares de Artur Nogueira desagradam usuários e dão prejuízo para empresa

Com contrato vencido, tarifas congeladas há 10 anos e sem receber subsídio, empresa responsável afirma ter prejuízo de R$ 16 mil por mês com transporte municipal

Da redação

Luciomar ajeita os óculos e tira os papéis de dentro da pasta – três folhas com planilhas de cálculos simples e anotações rabiscadas a caneta. Elas estão debaixo de um ofício que, assinado pelo presidente da Câmara Municipal de Artur Nogueira, Ermes Dagrela (PR), e pelo vereador Miltinho Turmeiro (MDB), é o motivo de o funcionário da Mult Transportes estar ali, no Salão Nobre da Casa de Leis nogueirense, na tarde da última quarta-feira (13).

O ofício enviado à empresa no dia anterior solicita a normalização dos dois ônibus que realizam o transporte público municipal e o retorno dos horários praticados pela empresa até a última semana de maio, quando ocorreu a crise dos combustíveis na cidade em decorrência da greve dos caminhoneiros e a Mult alterou o funcionamento da linha. Segundo o documento, muitos munícipes disseram aos vereadores que estão “perdendo seus empregos, consultas pré-agendas e compromissos” por causa da mudança.

De fato, na última sessão da Câmara Municipal, na segunda-feira (11), alguns parlamentares discorreram sobre o assunto. Rodrigo de Faveri (PTB), por exemplo, disse ter recebidos diversas reclamações sobre o serviço prestado pela empresa e comentou que há moradores que, após a alteração dos horários, relataram ter esperado quase duas horas no ponto por um ônibus circular.

Miltinho (MDB) afirmou que o “o pessoal está bravo porque não tem ônibus” nos horários antigos. E Cristiano da Farmácia (PR) cobrou no plenário a empresa responsável, sugerindo a quebra do contrato caso a Mult não siga as exigências estabelecidas e não realize adaptações nos veículos para melhorar o transporte dos passageiros.

Os comentários dos parlamentares motivaram Ermes (PR) e Miltinho (MDB) a enviar o ofício especial à Mult. Apesar de o documento se dirigir a José Roberto Bonardo, foi Luciomar Junqueira, encarregado de transportes da empresa, quem compareceu à Câmara Municipal para prestar esclarecimentos aos legisladores e à imprensa. No Salão Nobre, na presença de Dagrela (PR), Miltinho (MDB) e Zé da Elétrica (PRP) – além de um repórter –, o funcionário abriu o jogo.

Luciomar ajeitou as folhas e disse que, apesar de seus cálculos serem grosseiros, eram bem próximos da realidade. “Não tenho aqui nada oficial para dizer: ‘vamos protocolar tudo’, mas tenho uma base para dizer o que aconteceu com os circulares”, começou, pontuando que o contrato da empresa com a Prefeitura de Artur Nogueira, assinado em 2012, já está vencido.

Ele explicou que, com a greve dos caminhoneiros, a empresa precisou economizar combustível para conseguir manter as linhas municipais em operação. A Mult, até então, utilizava dois ônibus para fazer os dois itinerários da cidade (Itamaraty e Sacilotto). Com a escassez dos combustíveis, a empresa passou a fazer os dois trajetos com apenas um veículo. “E foi aí que a gente viu o tanto de prejuízo que estamos tomando no circular”, contou o encarregado.

Ele disse que, tomando como base os números da última semana em que os itinerários foram realizados normalmente, o prejuízo mensal da empresa com o transporte público nogueirense é de R$ 16.208, somando-se os custos de diesel, salário de motoristas, pneus, mecânica, seguro e IPVA. “E isso é só bruto, não conta graxa, eletricista e borracheiro, por exemplo”, observou Junqueira.

Com a mudança ocasionada pela greve, que fez a empresa deixar apenas um veículo circulando nos dois itinerários, o prejuízo da Mult é menor, mas nem por isso pequeno, segundo o funcionário. “Como são os dois motoristas que vão dirigir [alternadamente] um carro só, aumenta o gasto por veículo. E apesar de ser um ônibus só, aumentamos quatro horários para compensar”, acrescentou o encarregado de transportes.

De acordo com os cálculos dele, feitos com base nos números da última semana de circulação do veículo, o prejuízo da empresa é de quase R$ 600 por dia. “O faturamento é de R$ 454,80 por dia no horário que está hoje. O custo diário é de R$ 1045,00. Subtraindo o faturamento, temos R$ 590 de prejuízo por dia, mas é um carro só”, detalhou.

Impressionados com a situação, os parlamentares presentes questionaram se a empresa não havia percebido antes que o serviço era tão oneroso para o caixa. Junqueira respondeu que já se comentava na empresa que os ônibus circulares davam prejuízo, mas que nunca havia sido feito um cálculo sério sobre isso. “A gente só viu [o tamanho do prejuízo] agora. Agora que caiu a ficha”, destacou, explicando que a transportadora trabalha com outros serviços e não depende só dos circulares para se manter.

Quando indagado se a Mult não havia notado que o negócio daria prejuízo financeiro na época que assinou o contrato, o funcionáio explicou que as coisas mudaram muito de lá para cá. Segundo ele, quando a empresa assumiu os circulares, o óleo diesel ainda custava R$ 1, e as rotas do ônibus não incluíam diversos bairros da cidade que surgiram nos últimos anos, como o residencial do Minha Casa Minha Vida (MCMV).

Ele também salientou que há 10 anos não é feito um reajuste na tarifa dos ônibus municipais, que possui valor de R$ 2. “E se a gente cogitar ter um aumento no preço da passagem, aí que a população vai ficar brava”, advertiu, acrescentando que quase metade dos passageiros transportados são idosos ou deficientes, ou seja, não-pagantes.

“E a população vai pagar por isso?”, inquiriu o presidente da Casa de Leis, Ermes Dagrela (PR). O encarregado esclareceu que é justamente por causa da população que os ônibus da empresa não pararam de circular, visto que o contrato está vencido e a Mult poderia parar de tomar prejuízo a hora que quisesse. “A gente ainda está correndo [com os veículos] porque não queremos deixar a população na mão”, salientou.

Junqueira alertou que, se a Mult largar, é possível que nenhuma outra empresa queira fazer o serviço. “A Campestre e a Bonavita já fizeram o serviço e largaram porque dá prejuízo. Se a gente parar, ninguém faz”, asseverou.

Os vereadores perguntaram o que pode, então, ser feito para remediar a situação. Luciomar respondeu prontamente que, a princípio, existem duas alternativas mais viáveis: a primeira é a Prefeitura pagar um subsídio de R$ 16 mil à empresa para compensar o prejuízo; a segunda é aumentar a passagem para R$ 3,40.

“Se a Prefeitura chegar para a gente amanhã e falar que apareceu uma empresa disposta a fazer o trabalho, a gente entrega na hora. Assim, paramos de perder dinheiro”, arrematou o encarregado.

Diante disso, os parlamentares solicitaram aJunqueira que elabore uma planilha completa das despesas da empresa com o transporte público municipal para, juntamente com eles, apresentar os cálculos ao Poder Executivo. O intuito é explicar a situação para a Prefeitura e negociar soluções para que os ônibus continuem circulando e que a empresa tenha condições de melhorar os serviços prestados para a população.

Até que uma decisão efetiva seja tomada, adianta Junqueira, as linhas municipais continuarão operando com apenas um ônibus e nos horários descritos abaixo:

  • 06:25 – Itamaraty
  • 07:15 – Saciloto
  • 08:05 – Itamaraty
  • 08:55 – Saciloto
  • 09:45 – Itamaraty
  • 10:35- Saciloto
  • 11:25 – Itamaraty
  • 12:15 – Saciloto
  • 14:45 – Saciloto
  • 15:35- Itamaraty
  • 16:25- Saciloto
  • 17:15 – Itamaraty
  • 18:05 – Saciloto
  • 18:55 – Itamaraty- Saciloto

O Portal Nogueirense entrou em contato com a Prefeitura de Artur Nogueira, solicitando informações sobre o funcionamento das linhas e sobre o contrato com a Mult. Todavia, até o fechamento desta reportagem o Poder Executivo não se manifestou. Quando e se houver resposta, a população será atualizada.

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