20/08/2017

Gerente da Mairibel resgata história da empresa em Artur Nogueira

Há 20 anos em operação, a Mairibel Cosméticos é uma empresa nogueirense que conquistou o país

Alysson Huf

Há 20 anos em operação, a Mairibel Cosméticos é uma empresa nogueirense que conquistou o país. Presente em todas as regiões do Brasil, a marca ampliou seu catálogo de produtos – são mais 135, dos mais variados tipos – e investe cada dia mais em políticas socioambientais, como, por exemplo, não realizar testes em animais. A trajetória da indústria, contudo, se destaca pelo esforço de seus fundadores e por eventos que eles atribuem a Deus.

Juraci Marques de Oliveira, gerente administrativo da Mairibel, relembra o início da empresa e os caminhos percorridos em 20 anos. A empresa, que começou de maneira improvisada, batendo produtos no liquidificador e envazando com colheres de cozinha, cresceu, possui mais de 135 produtos e conquistou o respeito da critica e do público, o que pôde ser comprovado ao ganhar o prêmio Top of Mind 2017 na categoria qualidade e menor preço.

Entre investimentos planejados estrategicamente, riscos e até o que pode ser chamado de milagres, a Mairibel se tornou um empresa se renome, destacando-se no cenário nacional. Nesta conversa com o Portal Nogueirense, Oliveira destaca alguns dos momentos mais marcantes da história da empresa e mostra como a simplicidade e o trabalho bem feito ainda são virtudes essenciais para o sucesso de qualquer empreendimento.

Confira a entrevista na íntegra:

Como a Mairibel surgiu? O seu Antonio Mezei, fundador da Mairibel, tinha uma empresa de produtos sanitários há vários anos atrás lá em São Paulo (SP). Ele fabricava amaciantes, desinfetantes, detergentes, sabão em pó, essas coisas. A química desses produtos, no entanto, é muito forte, muito corrosiva, e estava fazendo muito mal à saúde dele. Os produtos provocavam feridas na pele, alergias e até arritmia cardíaca. Ele foi ao médico, e este o recomendou parar de mexer com esses produtos. Ele ficou sem saber o que fazer. E era um negócio que dava um bom dinheiro. A fábrica era abastecida por filas enormes de caminhões, demandava uma quantidade muito grande de produtos. A cunhada dele trabalhava no Hospital Santa Marcelina, lá na capital. Ela sugeriu a ele fabricar shampoo e condicionador para ela vender ao colegas médicos e enfermeiros que trabalhavam no hospital. Daí ele começou a fazer esses produtos para ela, em pequena escala, enquanto a fábrica continuava com os produtos sanitários.

E como foi essa primeira experiência? No começo, é claro, foi um fiasco. O cabelo ficou arrepiado, quase caiu, deu coceira. Foi um fracasso. Mas isso era o começo, na fase de testes. E, com o tempo, ele aprendeu e conseguiu desenvolver a fórmula perfeita para o produto. A cunhada, então, começou a ganhar dinheiro vendendo para todo mundo no hospital. Naquele tempo, era tudo muito improvisado ainda, batido em liquidificador, envazado com colher de cozinha, potes com rótulos datilografados. Mas o produto era bom, excelente. E as vendas aumentaram ao ponto de a cunhada pedir as contas no serviço e começar a viver só disso, vendendo os produtos nos salões. E começou a ganhar dinheiro. Daí o seu Antônio refletiu, lembrou da recomendação do médico e, em 12 de julho de 1997, abriu a Mairibel Cosméticos. Isso depois de 15 anos fabricando produtos de limpeza.

E por que Mairibel? Bom, ele não quis abrir a fábrica em São Paulo (SP) por causa dos ladrões, que toda semana assaltavam a empresa dele. Então ele abriu a nova fábrica no interior, em Mairiporã (SP), por isso Mairibel – Mairi, de Mairiporã, e bel, de beleza.

E como você entrou na empresa? Três anos após a abertura da Mairibel eu entrei na empresa. Eu morava em Campo Grande (MS). E olha só como são as coisas. Eu estava lá, no Mato Grosso do Sul, recém-casado, a mulher estava grávida e eu não sabia. Daí ela acabou perdendo o neném, porque teve uma gravidez tubária. Então ela ficou de cama lá, cheia de pus, à beira da morte, perdeu 2,5 litros de sangue. Ficou só o coro e osso. Eu trabalhei no Hospital Adventista do Pênfigo, mas havia acabado de perder o emprego. Então eu estava desempregado, com a mulher doente e, para piorar um pouco mais, apareceu um cara com um 38 na cintura e disse ser dono da casa em que eu morava. Eu comprei a casa e, depois, apareceram uns herdeiros dela lá. Daí eu perdi a casa, perdi o emprego, perdi o filho e estava perdendo a mulher.

E como a situação mudou? Não sei se você acredita em Deus, mas eu comecei a me revoltar com ele. Eu falei “Senhor, se o Senhor existe mesmo, se o Senhor é bom mesmo, me tira dessa. Eu não estou fazendo nada de errado, procurei fazer tudo certo, por que estou passando por isso?”. E eu falei isso com raiva, entende? Mas Deus ama quem é sincero de coração, ele gosta de quem é verdadeiro. E eu rasguei o verbo mesmo, briguei com ele. Aí você não vai acreditar. O orelhão da rua tocou. Eu não atendo orelhão de rua. Do outro lado da rua em frente à minha casa tinha um supermercado e um orelhão. E o orelhão tocando sem parar às 6 horas da manhã. Eu comentei com minha esposa sobre o fato de o orelhão estar tocando há muito tempo, e ela me disse “você não está orando e brigando com Deus aí? Vai atender. Vai que é Deus querendo falar com a gente?”. E eu fui. Quando atendi, era a esposa do seu Antônio, a dona Elizabete. E ela disse “eu quero falar com um rapaz que mora aí perto, o nome dele é Juraci”. Eu me assustei na hora. “Quem que é a senhora?”. “Eu sou empresária, dona de uma indústria de cosméticos e de uma de produtos de limpeza, e não acho ninguém confiável para tocar a empresa de cosméticos. Aí me falaram bem desse rapaz e eu quero falar com ele. Você pode chamar ele para mim?”. Daí respondi que esse rapaz era eu e que havia atendido o telefone por acaso. “Não foi por acaso, não, filho. Faz três meses que estou orando a Deus para me mandar uma pessoa decente, e agora você atende o orelhão. Então é você”, ela me disse. Eu fiz então três pedidos para a dona Elizabete para ver se aquilo era mesmo obra de Deus. Eu pedi R$ 800 para ter condições de fazer a mudança, e ela disse que me depositaria R$ 1.000 ou mais, se eu precisasse. Eu pedi ajuda para pagar aluguel, já que eu estava sem condições, e ela disse que poderíamos morar na casa dela, uma mansão de três andares, com tudo pago. Eu expliquei, então, que minha esposa estava de cama e não poderia trabalhar, e ela disse que era coisa de Deus mesmo, porque estava sem condições de registrar os dois naquele momento, mas que o faria no prazo de um ano. “Pode vir embora”, ela disse. E vim.

Isso foi quando? Isso foi no ano 2000, 5 de novembro de 2000. Então fui parar em Mairiporã (SP).

Quando a empresa veio para Artur Nogueira? A empresa operou em Mairiporã (SP) de 1997 a 2006. Como a família toda do senhor Antônio era daqui de Artur Nogueira, ele comprou uma chácara perto do Cevisa, e fazia o trajeto entre as duas cidades toda a semana. Isso acabou ficando muito desgastante. Então ele adquiriu oito terrenos aqui e construiu os dois prédios que formam hoje a Mairibel.

A crise econômica do país afetou muito a Mairibel? Afetou bastante. Afetou em uns 38%. Não fomos tão impactados quanto outros colegas do ramo, pois muitos deles fecharam. Muitos mesmo. A gente sentiu o impacto da crise, mas numa escala um pouco menor que os outros. Isso porque nós temos fórmula própria, prédio próprio e não pagamos aluguel. Isso faz diferença. A maioria das indústrias aí fora terceirizam o negócio, pagam para outras empresas envazarem os produtos com as fórmulas deles. E a gente não tem isso. É tudo feito aqui mesmo, criado por nós, desde o conceito até a embalagem. Com isso, temos um preço menor e conseguimos segurar essa crise.

Mesmo com a crise vocês conseguiram o prêmio Top of Mind 2017, certo? Sim, isso aí foi em relação à qualidade. Eles fazem umas perguntas para os cabeleireiros, e, quando indagaram uma marca que produza itens bons e baratos, o primeiro que veio à cabeça da maioria deles foi Mairibel. Mas quando fala de embalagens e propaganda a gente não se sai tão bem. Agora que estamos começando uma nova mentalidade.

E nesses 20 anos, quais as principais mudanças pelas quais a empresa passou? Bom, primeiro, nós fabricamos muito mais produtos, se antes eram uma meia dúzia, hoje são mais de 135. Melhoramos também a aparência de nossas embalagens e estamos investindo em divulgação por meio de blogueiros e influenciadores digitais. O prédio aqui também passou por uma transformação radical para atender as demandas da globalização. Então investimos muito em tecnologia, equipamentos, maquinário, capacitação de funcionários. De 2010 para cá, evoluímos muito. Nosso produto sai da fábrica com alto padrão de qualidade e segurança, para que não chegue ao consumidor final com algum defeito.

Vocês também desenvolveram uma política socioambiental nesse período, correto? Sim. Até 2010 não tínhamos nenhuma política ambiental ou social. Então agora, por exemplo, nós já implantamos um sistema de tratamento de esgoto, para não jogarmos nossos resíduos no esgoto das vias públicas. É um processo caro para a empresa, já que envolve várias pessoas e maquinário.

E vocês também não fazem testes em animais? Exatamente. Aí entra a parte da nossa responsabilidade social, preservando o meio ambiente. Nós antes trabalhávamos com tutano de boi, extrato de ostra, queratina animal. Nós começamos a tirar isso de linha e usar mais extratos de castanhas, como castanha-do-Pará, muru muru, andiroba, copaíba, tudo sem prejudicar o meio ambiente e sem usar nada animal. Inclusive, o laboratório que nos assiste aqui e faz todos os testes fica em Campinas (SP), na Unicamp, com pessoas de alto gabarito. Nós também temos um sistema de captação de água, para 40 mil litros de água de chuva. E a reutilizamos para lavar banheiros, calçadas, regar jardins e não gastar a água do poço artesiano.

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