15/10/2018

Professora de Artur Nogueira conta como profissão inspira vidas

DIA DO(A) PROFESSOR(A): Eunice da Rocha Francisco atualmente é coordenadora do Colégio Futura Plus

Daniela Fernandes

“Fui dar aula no Ensino Médio, à noite, em Itapira (SP). Precisava ajudar meu esposo, já que vivíamos uma época difícil, na qual ele havia perdido o emprego. Eu dava aula em dois períodos, manhã e tarde, e pensei: ‘por que não lecionar à noite também?’”. Esse foi o contexto narrado por Eunice da Rocha Francisco que desde pequena já possuía o desejo e a vocação para ser professora. Natural de Minas Gerais, a atual educadora de Artur Nogueira tem feito a diferença em municípios de São Paulo.

Relembrando alguns anos, era o primeiro colegial e Eunice ia de moto, de Mogi Mirim (SP) a Itapira (SP), sozinha e à noite para dar aulas. Ela conta que esse foi um período desafiador mas que conseguiu extrair bons frutos. A educadora lembra de dois jovem, os quais – segunda ela – não queriam nada com nada. “Era só farra, muito envolvimento com drogas, era uma escola difícil”.

No primeiro dia, ela guardou todo o medo. Na estrada, ia conversando com Deus e pedia a Ele para que fizesse a diferença na vida dos dois jovens estudantes. “Em uma sala, onde dava aula de português, eu passava atividades na lousa e esses dois alunos mal entravam”. Intrigada com a situação, Eunice começou a contar histórias do Brasil e sentiu que ambos despertaram interesse. Eles se assentavam e permaneciam nas aulas. “Continuei, dia após dia eu dava lições de moral… Fui percebendo, então, que eles continuavam a prestar atenção nas histórias”, pontua.

Três meses depois…

Terminou a licença de três meses, virou o ano e a vida seguiu. Dois anos depois, a professora entrou em uma floricultura em Mogi Mirim (SP) e veio um moço e a atendeu. “No que eu virei, ele disse: ‘dona Eunice’”. Ela conta que foi uma surpresa, já que o ex-aluno a contou que havia ouvido todos os conselhos proferidos anos atrás. “Ele casou, teve uma filhinha e havia saído do antigo mundo das drogas e farras. Além disso, disse que estava muito feliz pois só conseguiu o emprego devido ao término do colegial”, comemora a educadora. Indagado sobre o outro colega, o jovem deu a triste notícia: ‘infelizmente, o rapaz morreu de overdose, nas drogas…’.


“Já passaram milhares de estudantes pelas minhas aulas e um que faz a diferença já é válido”


Aquilo foi cruel de se ouvir, de acordo com Eunice, contudo, ela não escondeu a felicidade que sentiu ao ver pelo menos um dos dois realizado. “Estava muito feliz por ele. E ele agradeceu e disse que os meus conselhos foram essenciais para mudar a vida dele e serviram de inspiração para ele lutar por um futuro melhor. Esse meu aluno me lembrou de cada conselho. Eu fiquei extremamente contente, afinal já passaram milhares de estudantes pelas minhas aulas e um que faz a diferença já é válido”.

Carreira

A carreira começou em 1990, desde lá, a professora Eunice nunca mais parou. “São longos anos em escolas particulares e públicas. Eu amo tanto que nem conto”, explica depois de ser questionada sobre o tempo de jornada na profissão.

Ela foi para o Castelo Branco em Limeira (SP) fazer o magistério, depois para a faculdade fazer Letras e, posteriormente, realizou pós-graduação em Psicopedagogia, Direito Educacional e Docência Universitária. Após esse período, a experiente docente deu aulas em uma universidade em Piracicaba (SP) para professores, diretores e coordenadores. “Era uma pós-graduação sobre docência, ou seja, naquilo que eu me formei, eu dei aula”.


“Eu amo tanto o que faço que nem conto há quantos anos estou nessa profissão”


Em 2012, veio a primeira oportunidade como diretora na escola municipal Antônio Agostinho Batista em Conchal (SP). “Foi assustador porque tinham 865 alunos e minhas experiências anteriores eram apenas como professora”. Ela confessa que o susto se deu com relação ao número de alunos e a equipe de quase 40 profissionais. Entretanto, o desafio foi enfrentado com maestria. “Tive a chance de formar a minha equipe. Escolhi minha vice e a coordenação, e foi um trio que deu muito certo”.

Em seguida, ainda em Conchal (SP), ela foi diretora na escola Adelina e, na sequência, na unidade de ensino Maria Benedita Fernandes em Tujuguaba (SP).

Nova fase

Estando como diretora, Eunice conversava com Irene [atual dona do Colégio Futura Plus em Artur Nogueira] sobre o ‘colégio ideal’. “Mesmo estando na Inglaterra, ela idealizava essa escola que batia com tudo o que eu acreditava. Eram duas horas da manhã e nós conversávamos de como seria uma escola, uma sala de aula, número de alunos”. Hoje, a professora explica que para ter um ensino de excelência, é preciso ter bons profissionais, bons materiais e um bom espaço. “Quando ela me convidou para vir para cá, aceitei na hora. Deixei o cargo de diretora e vim para ser coordenadora do Futura Plus e estou até hoje”.

Apaixonada pela profissão, ela pensa que o professor deve estar sempre aprendendo. “É uma bagagem de aprendizagem para ele ensinar. Ele tem que saber primeiro para conseguir ensinar, ou seja, mediar esse conhecimento, mas deixar sempre o aluno como protagonista. É um dom”.

Eunice faz uma reflexão sobre os dias atuais. “Percebo que a cada dia que passa, as crianças estão vindo diferentes em diversas formas, como pensamentos, ações, tempo e qualidade de tempo que os pais têm com eles no brincar, no apoiar, no dever de casa…”. Segundo a docente, há família em situações consideradas tristes. “Os pais precisam trabalhar, muitos levantam seis da manhã e só retornam sete horas da noite. Qual momento eles têm com os filhos? Já colocam para tomar banho, jantar e dormir… Restam a eles o final de semana, mas os genitores tem a vida deles, não apenas em função dos filhos”. Tal situação, do ponto de vista da professora, torna a educação em casa ainda mais complicada.

Pensando nesse contexto, Eunice diz que os professores devem entrar em ação e tudo com muito zelo e paciência. “Vejo muitas pessoas falando que escola é lugar de dar educação. Eu já acho que escola é um local de continuar essa educação. Precisamos auxiliar os pais na formação humana, tendo paciência, escutar as crianças, olhar no olhinho de cada um e ver qual o problema que cada um tem ali. O professor, tendo essa paciência, consegue fazer com que os pequenos aprendam, porque eles veem nos educadores um amigo, amparo e apoio. Aí, a aprendizagem acontece. Se a criança não tem em casa um carinho e, também, não ganha na escola, ela fica sem nada”, lamenta.

Eunice valoriza que o papel do professor na sociedade é transformar. “Transformou como ser humano, a aprendizagem acontece. Eles aprendem em casa, retornam para a escola, a gente dá a nossa forma e a criança retorna para a sociedade um pouco melhor”, ensina o passo a passo. “Essa transformação de mundo faz a diferença”, afirma com certeza no olhar e a sabedoria de uma educadora.


“Professores devem trabalhar com zelo e muita paciência”


Antigamente, a preocupação – segundo a professora – era como deixar o mundo melhor para as crianças. Hoje, ela não se preocupa mais com isso. “Me importo em como deixar os nossos filhos para um futuro”. E acrescenta, “atualmente está mais difícil lidar com o ser humano, não existe mais tanta empatia, respeito… Vejo aí as discordâncias de partidos, candidato ‘x’, ‘y’… Eu sempre falo, eu te respeito, mas não concordo, e dou a minha opinião. O que está faltando na sociedade é isso: respeito pela pluralidade de opinião”.

“No Futura Plus, onde eu sou coordenadora, hoje, a gente busca transformar as crianças para elas terem sempre algo positivo para dar para o outro. Acredito que estamos no caminho certo”, exclama.

A professora Eunice da Rocha Francisco nasceu em Minas Gerais, tem duas filhas (Gabriely e Rafaela), uma neta (Helena, de quatro anos) e é casada com Carlos Alberto.

…………………………

Tem uma sugestão de reportagem? Clique aqui e envie para o Portal Nogueirense.


Comentários

Não nos responsabilizamos pelos comentários feitos por nossos visitantes, sendo certo que as opiniões aqui prestadas não representam a opinião do Grupo Bússulo Comunicação Ltda.